segunda-feira, 26 de abril de 2010

BULLYING



Bullying, é um termo Inglês que é utilizado para descrever actos ou ameaças intencionais e sistemáticos de violência física e/ou psicológica de um indivíduo ou grupo de indivíduos, sobre outro(s), incapazes de se defender.

Tal como outros “estrangeirismos”, convém fazer uma pequena definição/tradução literal para enquadrar melhor a palavra, já que o problema, está mais que definido.


“Bulliyng” tem origem na palavra “Bull” ou seja, “Touro”, tido como um animal agressivo, impulsivo, forte e por vezes inconsciente. Surge também na significação da palavra “Bully” ou seja, “Valentão”, ou “Agressor”. A conjugação destes dois termos, dá-nos uma ideia do que está na origem desta palavra, muitas vezes confundida com violência e agressividade, onde também há divergências face a ser algo inato ou aprendido!


Mas, o que diferencia violência (banal) de Bullying? Como foi dito acima, o Bullying caracteriza-se pela mesma violência, mas esta terá que ser praticada de forma “sistemática e repetida”. Atente-se nos exemplos:

1. O Zé (14 anos), bate no João (9 anos), chegando mesmo a causar graves lesões, porque o João entornou o sumo do Zé no café! Esta é uma situação de Violência, agressão, mas não é Bullying!


2. A Maria (15 anos), sempre que passa pela Joana (11 anos), chama-lhe “gorda” e “feia”! Esta pode ser uma situação de Bullying.


Dan Olweus define Bullying em 3 tipos de comportamento – Agressivo Negativo; Repetido e entre partes com uma relação de Poder Desequilibrado. Como se pode constatar, entronca na definição usualmente referenciada como a “mais correcta”.

O mesmo Dan Olweus também divide o Bullying em 2 categorias, directo onde há agressões físicas e o indirecto ou social, onde a intimidação, os boatos, as críticas fáceis se encontram. Podemos aqui inserir também o recente “CyberBullying”, mais difícil de identificar e denunciar devido à sua “Cyber” localização e contexto.


Atente-se que esta questão da denúncia será porventura um dos principais entraves à erradicação deste flagelo que vem assolando a sociedade do Séc XXI. E é um dos principais obstáculos, na medida em que a vítima muito raramente tem a capacidade e denunciar, tal o medo das represálias e o diferencial de poder existente na relação vítima/agressor.

O Bullying, ao contrário do que tem vindo a ser veiculado nos “média”, não acontece exclusivamente no contexto Escola, mas também no espaço “trabalho”, no espaço “vizinhança”, no contexto “político” e “militar” entre outros, não esquecendo a “família”.


Desde o abuso de poder, assédios, chantagens, insultos, rumores, agressões e até mesmo a “grafitagem” depreciativa… são alguns dos tipos mais usuais de violência/agressões que seguindo uma sistemática execução, caracterizam e se apresentam como o Bullying.


Tendo em conta o desrespeito pela dignidade da pessoa Humana, o Bullying já é visto, tal como qualquer tipo de Agressão, como uma violação e/ou desrespeito pelos princípios Constitucionais e pelo Código Civil. Será por aqui, pela punição, castigo, que deve haver uma maior intervenção no combate ao Bullying? Na minha opinião “NÃO”, pois neste caso seria apenas um remendo, remedeio, ficando a prevenção de fora. A erradicação deste flagelo, terá obrigatoriamente que passar por um conjunto integrado de métodos e técnicas “diagonais” de intervenção aos vários níveis, tais como Educação, Instrução/Família, Sociabilização/Política... Numa fase intermédia o tratamento, sinalização e acompanhamento por parte das “inoperantes” CPCJ (Comissão de Protecção de Crianças e Jovens), no encaminhamento e dotação de maior capacidade humana no contexto de apoio psicológico e aí sim numa fase subsequente no dito “castigo”, não pondo de parte a famigerada integração pedagógica…


Aceite que está a existência do problema, definido que está, traçados que estão os contextos, métodos e até mesmo perfis do “Bully” e da vítima, urge que todos os intervenientes se sentem “à mesa” para sem orgulhos e vaidades, em conjunto, se conseguirem definir mais e melhores estratégias de intervenção na tentativa de terminar com este tormento que pouco a pouco vai vincando e marcando negativamente a necessidade de afirmação de uma Sociedade que aspira ser cada vez mais Justa e Global.


Para finalizar, deixo apenas alguns esquissos que retirei do debate “Bullying Realidade ou Mito” realizado recentemente.

1. A Educação de uma criança, começa 20 anos antes do seu nascimento. (quando os seus pais estão já numa fase adulta!) Será assim, aqui e agora, que podemos e devemos actuar assegurando assim que dentro de 20 anos (hipoteticamente!) este fenómeno está reduzido ao mínimo possível.


2. Não importa o que a Sociedade pode fazer por nós, mas o que nós podemos fazer pela Sociedade! Assim sendo, não devemos esperar que a Sociedade, Governo, EU, Justiça, venham fazer algo por nós… devemos sim “arregaçar as mangas” e ser cada um de nós a fazer algo pelo bem comum, pela Sociedade, desmistificando a realidade que é o Bullying, assinalando-o, combatendo-o, denunciando e acima de tudo… actuando!



3. Sendo a Escola o “espelho da Sociedade”, esse é um contexto onde se deve actuar mais afincadamente e com maior urgência, no entanto é de salientar que há uma diferença bem vincada (ou deveria haver!) entre Instruir e Educar. Nesta linha de pensamento, só em conjunto com toda a Sociedade e Família, é que a Escola poderá actuar de uma forma mais efectiva.



4. É fácil criticar, é fácil apontar… difícil é contribuir e ajudar, até porque muitas vezes o agressor é a vítima, pelo que se deve ter em conta que a violência não combate a violência! “A Humanidade não pode libertar-se da violência, senão por meio da não-violência” – Mahatma Gandhi



5. E para finalizar… Abraham Maslow, estrutura as necessidades de forma hierárquica, onde implicitamente, fica a ideia que nascemos agressivos e violentos, de tal forma que lutamos para satisfazer as necessidades mais básicas, no entanto, Bandura, Pavlov e Vygotsky (entre outros) levam-nos a pensar o contrário. Assim sendo, citando Sigmund Freud: “O ideal seria um equilíbrio entre a realidade psíquica do homem e as exigências da vida em Sociedade”. (pág. 116 da apostila, Texto: O caso de Romualdo e a violência)