domingo, 22 de outubro de 2017

INCÊNDIOS e ABUTRES (parte 1 de 3)


Há já algum tempo que tenho “abandonado” a publicação de textos no blog. A escrita mantém-se, mas a publicação apenas agora volta e logo pelas piores razões!

O texto vai ser longo, maçudo, subjetivo e parcial!

Em primeiro lugar devo dizer que sou favorável à saída da MAI do Executivo, mas não sem antes saber o resultado do imprescindível inquérito a esta (nova) ocorrência fatídica. Se a “culpa” é dela? Nim. Se a demissão pós Pedrogão teria evitado esta nova tragédia? NÃO. Se esta demissão vai resolver em tempo útil o que aconteceu? NÃO! Se era inevitável? Sim.

Lembro-me bem a fase pós “Entre os Rios” e é certo que cabeças a rolar agradam sempre aos grifos que vivem da sangria e da capitalização populista (e popular) de controlo das massas e tropas. Mas afinal… se um dos maiores Impérios de sempre teve a decimazione porque não poderemos ter nós as nossas “tradiçõezinhas”. Mas mais uma vez, concordo com a saída da MAI. Convenhamos que também não conseguiu fazer uso de uma das maiores armas de um político… “a palavra”!

Adiante e porque não rezamos o suficiente para que a chuva chegasse a tempo…

Na minha humilde opinião, penso que TODOS somos responsáveis pelo que se passou, quer por ignorância, por inação, por conivência, por comodismo, por estupidez e em última instância por ilegalidade… TODOS!

Para não me alongar (ainda mais) e tecer comentários acerca do aquecimento global (por exemplo) vou “apenas” centrar esta reflexão (sim, ainda nem comecei) em 4 partes. Pré Incêndio, Incêndio, Pós Incêndio e Organização, farei claro, uso de linguagem “corrente”, vernáculo e alguns regionalismos evitando ao máximo a utilização de termos “mais técnicos”!!!

1 - Pré Incêndio, prevenção ou preparação. Esta é certamente a fase mais importante e a menos querida, quer a nível financeiro dos Orçamentos de Estado, quer pelo trabalho de proprietários, Estado e população em geral, quer pelo acomodamento de instituições e costumes que se perderam ao longo dos tempos… afinal… “em casa roubada, trancas à porta”. A casa foi roubada, agora é tempo de agir! LIMPEZA, VIGILÂNCIA, MULTAS, ABANDONO, ORGANIZAÇÃO…

1.1        - Nesta fase seria de suma importância proceder a uma correta e eficaz LIMPEZA das florestas até eventualmente tirando proveito dos resíduos ao nível da produção de energia com a “queima” dos mesmos… Biomassa “grátis”!?
Para esta LIMPEZA penso que deveriam ser convocados TODOS os Portugueses, claro que com importância e intervenção diferenciada, a saber:

- Bombeiros, Militares, Reclusos, beneficiários RSI, desempregados (subsidiados), empresas e finalmente a população com um “banco de horas”.

Bombeiros; Não posso aceitar que se fale de incêndios apenas em agosto… é imperioso que os Bombeiros sejam convocados para a limpeza das florestas, pois afinal, são eles que melhor conhecem os “pontos críticos”, o terreno e assim o próprio levantamento de necessidades será mais claro e efetivo.

- Militares; É também nesta fase e limpando as florestas que os Militares podem (e devem) pois afinal “Contribuir para a segurança e defesa de Portugal e dos portugueses” é um lema bem patente e apregoado em diversas ocasiões! É ainda conhecida a “disponibilidade”, quer de Recursos Humanos, físicos, materiais e organizacionais de  que os Militares dispõem.

- Reclusos; É sabido que os Reclusos, para o serem, é porque têm algum tipo de dívida para com a Sociedade e que enquanto o são, é a própria Sociedade que providencia para que possam ter “cama, mesa e roupa lavada”… Limpar valetas, limpar mato, limpar caminhos, executar “zonas de segurança”… enfim… um sem número de trabalhos que podem e deveriam ser levados a cabo em prol da Sociedade por quem hipoteticamente está a ser “sustentado” pelo credor! Estou ainda certo que muitos preferiam este cenário à reclusão total. Tem custos? É difícil agilizar? NÃO… difícil é ligar a CMTV e ouvir que morreram centenas de pessoas! Também ao nível da reinserção poderia este ser um passo a dar.

- Beneficiários do RSI e benificiários do subsídio de desemprego; Sem entrar em grandes discussões acerca do RSI, que teve um excelente conceito que ora vejo subvertido, penso que tal como Militares e Reclusos (financiados pelo Contribuinte) deveriam dar o seu contributo, rentabilizando do ponto de vista Estatal, o pagamento efetuado.

- Empresas; Todas as empresas, principalmente aquelas que direta ou indiretamente sejam beneficiárias de apoios estatais têm a de alguma forma de contribuir para o combate “pré incêndio”, nem que seja apenas com o fornecimento de refeições, meios de transporte, equipamentos para aqueles Recursos Humanos que estariam no terreno a efetivar a limpeza das florestas. Casos como a PT, EDP, Brisa, EP são apenas alguns casos que não sendo obrigadas por lei, têm a obrigação de colaborar. Algumas delas diga-se, estão até eventualmente ligadas aos trágicos acontecimentos…

- População; Não me escandaliza de forma nenhuma, que das quase 9000 horas que um ano tem, um Cidadão (com letra maiúscula) esteja impedido de doar 5/6 horas do seu ano para ajudar na limpeza das florestas e/ou na vigilância (que mais tarde abordarei). NÃO É NO FACEBOOK com lacinhos na foto de perfil que se ajuda a superar as falhas de um País… NÃO É NO TWITTER que um Bombeiro consegue ao fim de 4 horas (era assim antes, agora não sei!) tem uma refeição revigoradora e decente… NÃO É NAS REDES SOCIAIS que fazemos a diferença…

1.2 A VIGILÂNCIA, tal como a Limpeza, pode chamar a si a participação dos intervenientes que falei anteriormente, Bombeiros (que já fazem), Militares (e forças militarizadas), RSI, Desempregados, Empresas e População. Neste caso, eu excluiria a participação dos reclusos.

- Bombeiros; fazem fizeram e farão sempre vigilância, talvez os moldes em que é feita possa ser melhorado com o registo de saídas de vigilância numa “time line” que possa mais facilmente ser verificada e porque não, á imagem da PSP, fazer a vigilância de proximidade e visível de forma pública. Hoje sabemos alguns pontos onde vão estar alguns radares! É também nesta fase, que os Bombeiros devem relatar às autoridades, Juntas, Câmaras… o estado em que se encontram caminhos, culturas, pontos de água…

- Militares; Ninguém tem quadros melhor formados e preparados para fazer vigilância, quer pelos recursos materiais que tem disponíveis, quer pela formação específica que têm ao nível da capacidade para, ao contrário dos Bombeiros, “ver sem ser visto”!

- RSI e Desempregados, tal como na Limpeza e os que não têm capacidade física para esse tipo de trabalho, podem sempre colaborar na Vigilância. Estar sentado a olhar para o mato não me parece difícil. Tenho conhecimento de que grupos de escuteiros, alguns bem jovens têm este tipo de colaboração…

- Empresas; e tal como na Limpeza pergunto: Não terá a (ex) Corticeira Amorim capacidade para oferecer uma sandes de fiambre a 5000 pessoas que se voluntariem para fazer limpeza das florestas numa semana? 5000 X 0,50€ = 2500€. 2500€ X 7 = 17.500€ e assim está paga a “buxa” de 5000 pessoas que vigiam ou limpam a floresta durante 7 dias… e a sandocha não custa 0,50€, porque custa menos!

- População; a mesma participação que citei anteriormente, sendo que a Vigilância pode (tal como RSI) ser efetuada por pessoas com menos aptidões físicas. Sei de pelo menos um caso de uma pessoas em cadeira de rodas, que TODOS os anos é voluntária para fazer este trabalho de vigilância. Como ele diz… “ando aqui para me sentir útil, chega a côdea, porque a bebida trago-a eu de casa”!



1.3        ABANDONO. Não só o abandono dos terrenos, onde a giesta prolifera atingindo alturas mais elevadas que a macieira, mas também o abandono da aposta nesta fase de prevenção. O Estado tem aqui uma grande parte de responsabilidades, uma vez que também é proprietário de vastíssimos terrenos deixados ao abandono ou “ó relaixo”… o Exemplo tem de vir de cima e neste caso, não está minimamente a vir! Se o estado não se considera capaz de gerir as suas posses, que se declare incompetente para tal, ou que incentive a aposta e investimento nesses terrenos. Cabe também ao estado dotar as instituições dos materiais e recursos necessários para a boa fase de “pré incêndio” fazendo com que esta seja retardada ao máximo.



1.4        ORGANIZAÇÃO. Este será o ponto “transversal” onde mais haverá a dizer, mas vou tentar ser conciso:

- A extinção da figura do Guarda Florestal veio a fazer com que fosse mais fácil ao prevaricador (doente ou não), iniciar um incêndio. Seja essa ignição por doença, por queimar umas silvas, pelo lançamento de foguetes, pela “beata”, por razões financeiras (madeira), por motivos passionais (vinganças)… era também esta figura que relatava as condições de acesso a zonas de potenciais perigos e estado das mesmas.

- A aposta “cega” no negócio da madeira deixando a cultura de espécies folhosas autóctones de lado, pois o negócio tarda em gerar lucro e os planos de ordenamento do território são sempre bonitos e descontinuados de ciclo em ciclo eleitoral!

- A falta da renovação de aposta (ou por diretivas Europeias ou por simples falta de apoios) na Agricultura, pastorícia, pecuária… atividades que mantinham (em parte) a salubridade florestal.

- O balizamento “cego”, mais uma vez “cego”, da definição das fases das épocas de incêndio, descurando à cabeça uma série de recomendações, não do “Seringador” ou do “Borda d’água”, mas do IPMA! Uma “saída” desta última fase de forma parcelar podia ser mais eficiente, apesar de ter custos!

- A falta de visão na dotação dos meios necessário às Corporações de Bombeiros, na distribuição dos meios no mapa territorial, na parca gestão dos contratos e recursos ao nível dos meios aéreos pesados de combate.

- A formação… sempre a falta de formação de quem de direito (e não estou apenas a falar da ANPC!

- A falta de aposta em campanhas de sensibilização, que só aparecem quando a procissão vai a meio… É necessário ir às bases, às escolas!

Muito mais haveria ainda a abordar nesta fase, mas aqui já diz que ultrapassei as 1600 palavras e sei que 99% dos que iniciaram a leitura, já desistiram, por isso passemos à 2ª fase, o INCÊNDIO propriamente dito.



2            – O incêndio é aquela fase em que a supostamente tudo o que falei anteriormente falhou. Agora é “água e rezar”… ou não!

Nesta fase é importante chegar rápido ao incêndio numa 1ª intervenção forte e capaz (1ª INTERVENÇÃO). É também de suma importância que existam MEIOS suficientes e adequados ao combate. A COMUNICAÇÃO é como em todas as organizações de vital importância para o bom desenvolvimento dos trabalhos a realizar. A GESTÃO de recursos é ainda importante nesta fase, quer ao nível do combate direto, quer ao nível da organização dos recursos. A ORGANIZAÇÃO… mais uma vez… a organização…


Sem comentários: